Via Anchieta tem 29 pontos de
deslizamento
Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
O trecho de Serra da Via
Anchieta tem 29 pontos de deslizamento de terra recentes, ocorridos na última
temporada de chuvas. Na maioria dos locais, foi adotada solução temporária para
evitar novos escorregamentos. A Artesp (Agência de Transportes do Estado de São
Paulo) diz ter conhecimento do problema.
A Pista Sul - sentido Litoral - tem 18 ocorrências,
enquanto na Norte foram observados 11 locais em que o solo escorregou. É
possível ver árvores caídas e a existência de terra sobre o asfalto em alguns
trechos. Em fevereiro, uma mulher morreu após deslizamento no km 52 da Rodovia
dos Imigrantes (leia abaixo).
Das 18 áreas da Pista Sul, 17 foram cobertas por piche,
processo chamado tecnicamente de gunitagem. Em outro foco, operários trabalham
na construção de muro de contenção. Já na Pista Norte, os 11 pontos não
apresentam qualquer tipo de intervenção, mesmo que paliativa.
Para a geógrafa Fabiana Souza Ferreira, especialista em
geomorfologia, a gunitagem não resolve o problema, além de provocar risco de
ocorrências ainda mais graves. "Com esse processo, impede-se apenas que
aquela porção específica do solo sofra deslizamento", explica a professora da FSA (Fundação Santo André).
O aumento do perigo se dá em
função da impermeabilização. "A área superior ficará mais pesada do que a
inferior, devido à absorção da água. Com isso, abre-se um caminho livre para a
descida de outras porções do solo", detalha a especialista. Mesmo sem
incidência de chuva nos últimos dias, Fabiana afirma que o risco existe devido
à umidade existente.
A sugestão apontada para evitar tragédias é a elaboração de sistemas
hidrológicos, que consistem na construção de métodos para escoamento adequado
da água. "Muita gente acha que a colocação de grama já faz a contenção. No
entanto, embaixo há muita rocha fraturada, pronta para deslizar."
O professor do Centro de Engenharia da UFABC (Universidade
Federal do ABC) Fernando Rocha Nogueira demonstra menos preocupação em relação
ao uso do piche nas encostas. "Para cada local, é necessário um tipo de contenção.
O muro de arrimo, por exemplo, nem sempre é a melhor solução."
Nogueira também cobra da concessionária Ecovias a
realização constante de monitoramento no trecho de Serra. "Essa empresa
obtém volumoso lucro de operação da gestão das estradas por meio do pedágio,
portanto, essa atividade deveria ser obrigatória." Para o professor, uma
das opções de ações preventivas seria o uso de helicópteros. "A Prefeitura
de São Bernardo monitora áreas de risco a pé e por observação aérea, e isso tem
dado resultado. Esse tipo de situação nunca ocorre de repente, sem dar
sinais."
A Artesp diz que os escorregamentos que interferem na
rodovia são monitorados pela Ecovias. A agência diz que a concessionária não
tem nenhuma responsabilidade pelas ocorrências, e que, portanto, "não há o
que penalizar". Quando há riscos, as medidas de contenção e proteção são
feitas pela empresa, informa o órgão. A Ecovias diz ter gasto R$ 170 milhões
com monitoramento de encostas (leia
abaixo).
Para advogado, Ecovias é
responsável pela manutenção
Para o presidente da comissão de Direito Viário da OAB-SP
(Ordem dos Advogados do Brasil), Maurício Januzzi, a Ecovias é a principal
responsável pela manutenção das encostas ao longo do SAI (Sistema
Anchieta-Imigrantes). "Seria importante uma reunião entre empresa, governo
do Estado e municípios para a realização de uma força-tarefa para esse serviço.
No entanto, mesmo que as prefeituras não tenham feito sua parte, esse é um
problema que influencia na via pública, portanto, cabe à concessionária providenciar
a solução", avalia.
A Ecovias diz ter conhecimento de todos os pontos de
deslizamento relatados pela reportagem, e que todos foram "cuidadosamente
inspecionados por engenheiros da concessionária e empresas especializadas em
geotecnia logo após a chuva atípica que caiu no dia 22 de fevereiro". A
tempestade citada provocou a morte de uma mulher de 43 anos após escorregamento
de terra na entrada de túnel no km 52 da Pista Norte da Imigrantes.
Segundo a Ecovias, foram desenvolvidos projetos de contenção
específicos para cada ponto. "Os trabalhos começaram pela Pista Sul da
Anchieta e obedecem cronograma que leva em conta a segurança dos usuários, as
condições climáticas e o impacto no tráfego, já que os serviços só podem ser
realizados com fechamento total do trecho de Serra", diz a empresa. Todas
as intervenções deverão ser feitas em até seis meses. Em relação à aplicação de
piche, esse procedimento será definitivo em alguns locais. Em outros, será
colocado material complementar. A concessionária diz já ter gasto R$ 170
milhões em monitoramento e estabilização de encostas.
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